sábado, 9 de abril de 2016

Hipertensão e atividade física



A pressão arterial é caracterizada pela força com o qual o coração bombeia o sangue através dos vasos. É determinada pelo volume de sangue que sai do coração e a resistência que ele encontra para circular no corpo. Ela pode ser modificada pela variação do volume de sangue ou viscosidade (espessura) do sangue, da frequência cardíaca (batimentos cardíacos por minuto) e da elasticidade dos vasos. A hipertensão (comumente chamada de pressão alta) é a pressão arterial acima de 140x90 mmHg (milímetros de mercúrio) em adultos com mais de 18 anos, medida em repouso de quinze minutos e confirmada em três vezes consecutivas.
Segundo a sociedade Brasileira de Hipertensão estima-se que a doença atinja em torno de,25 % da população brasileira adulta, chegando a mais de 50% após os 60 anos e está presente em 5% das crianças e adolescentes no Brasil. É responsável por 40% dos infartos, 80% dos derrames e 25% dos casos de insuficiência renal terminal.
Os fatores de risco da hipertensão são subdivididos em fatores endógenos e fatores exógenos.

FATORES ENDÓGENOS

HEREDITARIEDADE: Algumas pessoas herdam a predisposição à hipertensão arterial, que pode apresentar-se em vários membros da família;

IDADE: O Envelhecimento eleva o risco da hipertensão arterial em ambos os sexos;

RAÇA: Estatísticas apontam que a raça negra é mais propensa á hipertensão do que a raça branca;

PESO: A obesidade é um fator de risco à hipertensão arterial;

FATORES EXÓGENOS

BEBIDA ALCOOLICA: O uso abusivo de bebida alcoólica se associa a hipertensão arterial;

TABAGISMO: Não está diretamente ligado á pressão arterial, porém é um fator de risco em doenças cardiovasculares;

EXCESSO DE SAL: Como vimos no post anterior o Cloreto de Sódio pode facilitar e agravar a hipertensão;

ESTRESSE: Excesso de trabalho angustia, preocupações e ansiedade, podem ser responsáveis pelo aumento da pressão arterial;

SEDENTARISMO: O sedentarismo contribui para a formação de ateromas (placas de gordura) nas artérias, devido  “sobras” de gordura que não foi devidamente metabolizada, fazendo com que haja um aumento de gordura na corrente sanguínea. Essas placas ocasionam uma obstrução nas paredes das artérias, comprometendo a circulação sanguínea e elevando a pressão arterial.



ATIVIDADE FISICA E HIPERTENSÃO

          Já na década de 80 em estudos realizados por Paffenbarger, no qual foi acompanhado por 6 a 10 anos a incidência de hipertensão arterial em alunos de Harvard, relatou que indivíduos que não se engajavam em atividades esportivas vigorosas tinham um risco 35% maior de desenvolver hipertensão do que aqueles que praticavam esse tipo de atividade. Fagard , em uma revisão de 2005, concluiu que níveis elevados de atividade física  reduzem em aproximadamente 30% a incidência de Hipertensão. Hayashi et al. observaram redução de 12% do risco de hipertensão quando o tempo de caminhada ultrapassava os 10 minutos.
          Porém de acordo com estudo de Alves (2007),  as características do treinamento podem afetar seu efeito hipotensor (causa a queda da pressão arterial). Em seu estudo conclui-se que maiores reduções da pressão arterial são conseguidas com: a) modalidades que envolvam maiores grupos musculares, como caminhada/corrida ou ciclismo; b) intensidades mais baixas (40% a 60% do VO2 pico) e c) volumes de treinamento maiores, com maior frequência semanal e/ou com maior duração das sessões.


EXERCÍCIOS AERÓBICOS



Os exercícios aeróbicos tem demonstrado ser o tipo de treinamento mais indicado para os hipertensos.
Estudos têm demonstrado reduções significantes das Pressão Arterial (PA) sistólica/diastólica com o treinamento aeróbico. Além de reduzir a PA clínica e de 24 horas, o treinamento aeróbico diminui a PA em situações estressantes (ROGERS ET AL. 1996 : SANTANELLA ET AL .2006). 
A indicação é que exercícios aeróbicos de baixa e moderada intensidade, com duração de 30 á 60 minutos pelo menos 3 vezes na semana são os principais aliados para resultar efeitos hipotensos desejados. Porém, orientações especificas devem ser seguidas ao se elaborar o treinamento: duração, frequência e intensidade. A recomendação da American Heart Association é que o exercício físico aeróbico seja realizado com duração mínima de 30 minutos, pelo menos 3 vezes na semana, com intensidade leve a moderada de acordo com a capacidade física do indivíduo. É importante que o programa a ser realizado se baseie em resultados obtidos em testes ergométricos, como monitoramento da curva de pressão arterial, afim de verificar respostas anormais ao exercício.
                 
EXERCÍCIOS RESISTIDOS



         O exercício resistido foi durante muitos anos contraindicado para indivíduos com problemas cardiovasculares e consequentemente os estudos sobre seu efeito relacionado á pressão arterial foi negligenciado por muito tempo. Porém, estudos foram feitos e indícios apontaram que o exercício resistido se bem orientado resultava na redução da pressão arterial. Entretanto ao praticar esse tipo de exercício picos de PA elevados podem ser alcançados facilmente se as características do exercício não forem controladas adequadamente para o aluno hipertenso. O treino resistido é indicado como um complemento do treinamento aeróbico, até mesmo devido aos seus benefícios sobre o sistema osteomuscular.

Dentre as peculiaridades de um treinamento resistido para hipertensos, alguns fatores devem ser cuidadosamente levados em consideração, como demonstrado abaixo:

1) A intensidade é um fator importante, pois para o mesmo número de repetições, quanto maior for a intensidade, maior será o aumento da PA;

2) Contudo, mesmo com intensidade baixa, os exercícios não devem ser realizados até a fadiga concêntrica (quando não se consegue mais fazer o movimento);

3) A pressão arterial deve ser mensurada sempre que possível ao longo do treinamento, principalmente antes de iniciar os treinos;

4) O período de pausa entre as séries e os exercícios deve ser longo para permitir que a PA retorne aos valores basais.


A prática regular de exercícios físicos reduz a PA, além de trazer outros benefícios para o paciente, tais como:


1)Redução do peso corporal, em especial pela redução da gordura corporal central demonstrada por uma relação cintura/quadril anormal (> 0,80 para o sexo feminino e > 0,90 para o sexo masculino);

2)Redução da resistência insulínica;

3)Correção das dislipidemias;

4)Diminuição do LDL (colesterol conhecido de tipo "ruim"), responsável pelo entupimento das artérias;

5) Estímulo ao abandono ao tabagismo;

6) Aumento da capacidade funcional;

7)Redução do estresse e melhora da sensação de bem-estar;


Hábitos saudáveis como a prática regular de atividade física e uma alimentação equilibrada indiscutivelmente são os principais aliados ao combate à hipertensão. Os exercícios aeróbicos de baixa intensidade e longa duração são os exercícios mais indicados para os hipertensos, porém, os exercícios resistidos podem ser utilizados para complementar o treinamento aeróbico. Mas não podemos esquecer que o treinamento deve ser cuidadosamente elaborado para esse tipo de público, com particularidades e características diferentes de um treino convencional.
É importante o hipertenso antes de iniciar qualquer treinamento a realização de uma avaliação clinica e procurar um profissional de educação física competente para a planificação do seu treinamento. Seu corpo e sua saúde são seus maiores bens, não entregue nas mãos de qualquer um. Bons treinos!!

REFERÊNCIAS


Cooper, K.H. O programa aeróbico para o bem estar total. Trad. Luís Horácio de Matta. Rio de Janeiro: Nórdica, 1982.

Fagard RH. Physical activity, physical fitness and the incidence of hypertension. J Hypertens, 2005.

 Forjaz CLM, Rezk CC, Cardoso Jr. CG, Tinucci T. Sistema cardiovascular e exercícios resistidos. In: Negrão CE, Barretto ACP, eds. cap. 17. Cardiologia do exercício: do atleta ao cardiopata. 3. ed. Barueri: Manole; 2010.

 Guidelines for Cardiac Rehabilitation Programs. Ed. American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation. Human Kinetics, Champaingn, 1995.

 Hayashi T, Tsumura K, Suematsu C, Okada K, Fujii S, Endo G. Walking to workand the risk for hypertension in men: the Osaka Health Survey. Ann Intern Med, 1999.

 Paffenbarger Jr RS. Contributions of epidemiology to exercise science and cardiovascular health. Med Sci Sports Exerc. 1988.

Rogers MW, Probst MM, Gruber JJ, Berger R, Boone Jr JB. Differential effects
of exercise training intensity on blood pressure and cardiovascular responses to stress in borderline hypertensive humans. J Hypertens, 1996.

Santaella DF, Araujo EA, Ortega KC, et al. After effects of exercise and relaxation on blood pressure. Clin J Sport Med. 2006;


Teixeira, L. Atividade física adaptada e saúde: da teoria à pratica. São Paulo, 2008.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Consumo de sal: Riscos e Benefícios


            O cloreto de sódio (NaCI) popularmente conhecido como sal, é o tempero mais básico e utilizado em todo mundo atualmente. No passado já foi tão valorizado quanto o ouro devido suas amplas formas de utilização, além de alimento (como forma de tempero), também era conhecido como um agente químico para conservação de alimentos, lavar, tingir, amaciar couro e descolorir. Hoje em dia devido o seu processamento tecnológico tornou acessível a todos. Existem vários tipos de sal e os mais comuns são:
• Sal de cozinha iodado (refinado)

É o sal encontrado na grande maioria dos saleiros do mundo. A razão de ser chamado de iodado é que a grande maioria dos fabricantes adicionam iodo em sua composição, que é um mineral essencial para combater certas doenças. Contém altas quantidades de sódio e não apresenta outros minerais que podem ser úteis ao nosso organismo.


• Sal marinho
Esse sal é obtido por meio da evaporação da água do mar. Geralmente ele possui cristais maiores do que os do sal de cozinha. Ele é considerado uma alternativa mais saudável que o sal de cozinha por não passar por nenhum processo de refinação, mantendo diversos minerais em sua composição que são benéficos para o nosso organismo. No Brasil, é o tipo de sal mais comum e barato.

• Sal koshe

Esse sal tem seu nome devido ao uso em preparar a carne kosher (preparada de acordo com leis judaicas). Ele não é refinado, sendo de formato irregular e maior do que o sal de cozinha. Devido a suas propriedades, esse sal consegue secar melhor o sangue das carnes, sendo um dos preferidos dos chefes por causa do seu sabor sem aditivos.
• Sal rosa do Himalaia
Esse sal vem da Ásia e é encontrado nos pés das montanhas do Himalaia. Seu tom rosado se deve aos minerais presentes nele, principalmente o ferro. Possui um custo mais elevado, mas é considerado mais saudável e puro do que o sal de cozinha comum.


• Sal negro

Também conhecido como Kala Namak, é obtido na região central da Índia em reservas naturais. Além da cor diferente, o sabor não é muito comum, lembrando o de gema de ovo. Possui uma textura crocante e é muito solúvel, sendo muito popular para receitas vegetarianas para molhos, saladas e massas.
• Light


Criado para ser uma opção mais saudável que o sal comum. Esse sal possui menos da metade de sódio encontrado no sal de cozinha refinado, cuja composição é de 50% cloreto de sódio (NaCl) e 50% cloreto de potássio. É mais vantajoso para pessoas que sofrem de hipertensão ou que retêm líquidos, mas deve ser evitado em caso de uma possível doença renal pela presença de potássio. O sal light deve ser utilizado na mesma quantidade que o sal comum para não perder sua vantagem de possuir menos sódio. Seu sabor é mais suave e, para alguns, pode ser um pouco amargo.
• Sal grosso

Possui cristais maiores e a mesma composição do sal de cozinha porém não passa pelo processo de refinamento. Muito utilizado no preparo de carnes.
• Sal líquido


Dissolvido em água mineral, o sal líquido normalmente é utilizado em forma de spray para salgar os alimentos de forma mais uniforme. Tem um sabor suave e salga menos por possuir menor quantidade de sódio do que o sal convencional.
• Sal temperado

É a mistura de sal grosso com ervas e/ou temperos para garantir a adição de sabor diferenciado.
            Sua classificação varia de acordo com a sua composição e processamento (comum, refinado e marinho) e características dos grãos (grosso, peneirado, triturado e moído), cada qual com suas especificações definidas pela legislação.
            Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) seu consumo por humanos não deve exceder 5000mg (5g) por pessoa por dia. Seu papel é de grande importância para nosso organismo, sendo responsável por estimular a produção de diversas substâncias envolvidas no processo digestivo, controlando o equilíbrio hídrico, contribui para transmitir os impulsos nervosos do cérebro para todo o corpo e, uma hora depois de ter sido ingerido, cumpre seu papel principal: regula a pressão arterial. Porém, para realizar todas essas tarefas 1,2 gramas de sal (equivalente a 1 pão francês e meio) por dia já é o bastante.



O EXCESSO DE SAL NO ORGANISMO
            O sal quando ingerido é absorvido pelo intestino e vai direto para o sangue, quando consumido em excesso cai na mesma proporção nos vasos sanguíneos. Com isso a água do nosso corpo é absorvida pelo cloreto, na tentativa de manter o equilíbrio e reestabelecer sua falta e a pressão arterial é elevada para aumentar o fluxo sanguíneo. Porém, os vasos estão acostumados com um determinado volume sanguíneo circulando dentro deles e quando saí da normalidade e passa a ser circulado uma grande quantidade de sangue, os vasos se contraem para tentar diminuir o fluxo e restabelecer o estado habitual. Embora a quantidade de sangue seja diminuída devido a constrição dos vasos a pressão de bombeamento do coração contínua elevada. Com isso o órgão não é irrigado corretamente fazendo com que seu tecido fique mais espesso. Em consequência disso uma série de problemas graves pode ocorrer, tais como: HIPERTENSÃO ARTERIAL, PROBLEMAS RENAIS, ARRITIMIA E INFARTO.
DEFICIÊNCIA DE SAL 
            Por outro lado a ausência de sal  pode causar a hiponatremia que é uma alteração metabólica caracterizada pela baixa concentração de sódio no sangue em relação ao volume de água no organismo. Ela ocorre em decorrência do desequilíbrio no complexo sistema fisioquímico, que regula a absorção e excreção de água e sódio no nosso corpo, e está associada principalmente ao processo de envelhecimento. Sintomas comuns em idosos como confusão mental, propensão a quedas, convulsões, déficit de coordenação e alteração de comportamento, podem estar relacionados com a doença. Outro fator que pode ter relação direta com a hiponatremia é uma insuficiência do sistema endocrinológico renal conhecida como renina-angiotensina-aldosterona, que atua na reabsorção de parte do sódio naturalmente excretado pelo organismo, impedindo que ele seja eliminado pela urina, uma vez deficiente, esse sistema não contribui para garantir a reposição do sódio.
Como vimos o sal desempenha funções importantes no nosso organismo e tanto excessos quanto consumos insuficientes são prejudiciais. 

?? CURIOSIDADE??

As vacas consomem sal para manter o equilíbrio das funções orgânicas. A formação dos ossos e mesmo a contração muscular do animal depende muito da quantidade de cloreto de sódio no organismo. Uma vaca consome 60 gramas de sal por dia, enquanto um ser humano não passa de 12 gramas diárias. Como não encontram sal na natureza, elas retiram a substancia das próprias plantas que comem.








COMO CONTROLAR O ABUSO DE SAL  ??

            A grosso modo as principais formas de controle do sal no organismo é pela boca e muito suor. A atividade física desempenha papel importante para diminuir o impacto negativo da alimentação rica em sódio sobre a pressão arterial. Quanto maior a quantidade de exercícios, menor o aumento de pressão arterial em resposta à alimentação rica em sódio. Segundo pesquisadores da universidade de Universidade Tulane, de Nova Orleans praticantes ativos de atividades físicas têm risco 38% menos de desenvolver hipertensão. Vale ressaltar que hoje no Brasil cerca de 17 milhões de pessoas sofrem de pressão alta e segundo levantamento em conjunto da Escola de Economia de Londres,  do Instituto Karolinska (Suécia) e da Universidade do Estado de Nova York. 
       Até 2025, o número de hipertensos nos países em desenvolvimento, como o Brasil, deverá crescer 80%, tal número é diretamente ligado aos hábitos alimentares e sedentarismo da população cada vez mais frequente.
  Aproximadamente 70% do sódio ingerido pelos brasileiros vêm dos alimentos industrializados, tais como: molhos prontos, condimentos, salgadinhos, picles, pizzas, sopas de pacote, embutido, queijos e outros alimentos.
  Uma das maneiras mais práticas de diminuir o consumo de sódio é observar as informações nutricionais no verso das embalagens ao comprar alimentos industrializados. Se a quantidade for superior a 400mg em 100g do alimento, é considerado um alimento rico no nutriente, sendo prejudicial à saúde. Além de reduzir a quantidade de sal no preparo da comida, podemos substituí-lo por outros condimentos, que inclusive vão dar um sabor melhor, substituições por ervas desidratadas e temperos naturais, como salsa, cebolinha, pimentas pode ser uma boa alternativa.
Como vimos a atividade física junto com uma alimentação moderada de sal são fortes aliadas para combater as doenças cardiovasculares e a hipertensão, que estão diretamente ligados ao consumo excessivo de sódio e sedentarismo. Cabe a cada um de nós conscientizarmos quanto ao consumo excessivo de sódio e como sempre se habituar à pratica de atividades físicas diariamente.



REFERENCIAL:

Prof. Márcio Luiz de Almeida BUENO / CREF 020654-G/MG

https://www.sbh.gov.br (Sociedade Brasileira de Hipertensão)
http://www.brasil.gov.com.br/saude (Ministério da Saúde)

COSTA, F. P.; MACHADO, S. H. O consumo de sal e alimentos ricos em sódio pode influenciar na pressão arterial das crianças? Ciência & Saúde Coletiva, v. 15, n. 1, p. 1383-1389, 2010.

FUCHS, F.D.; MOREIRA, W.D.; RIBEIRO, J.P.Efeitos do exercício físico na prevenção e tratamento da hipertensão arterial: avaliação por ensaios clínicos randomizados.Rev. Soc. Bras. Hipertensão– Vol. 4, Nº 3 – 2001.

LOLIO, Cecília Amaro de. The epidemiology of arterial hypertension. Rev. Saúde Pública, vol. 4, nº 5, p. 425-432. ISSN 0034-8910, 1990.



quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Dieta Vegetariana e Atividade Física

        

        Antes de mais nada o artigo em questão não é abominar o consumo de proteína animal, e sim informar melhor o praticante de atividade física que aderiu ou tem o interesse em mais informações sobre a dieta vegetariana.
       A proteína é uma das grandes interrogações para quem adere a dieta vegetariana. A principal dúvida é: Uma dieta com restrição de proteínas de origem animal seria suficiente para suprir nossa carência?
        As proteínas são compostos orgânicos de alto peso molecular, formadas pelo encadeamento de aminoácidos. Representam cerca do 50% a 80% do peso seco da célula, sendo, portanto, o composto orgânico mais abundante de matéria viva. Estão presentes em diversos tipos de alimentos e quando ingeridas, são absorvidas para desempenhar as suas funções no organismo, seja na composição do músculo, propiciando a sua contração, na defesa do organismo ou na transformação de energia
      Segundo e American Dietetc Association e a Organização Mundial da Saúde, em uma dieta balanceada, a ingestão de proteína deve representar cerca de 15% do total da dieta diária de uma pessoa.
      A questão da proteína disponível nos alimentos de origem animal e vegetal gera muita confusão. Vale lembrar também que as proteínas são compostas de aminoácidos, e que não existe nenhum aminoácido essencial necessário ao organismo humano que não seja encontrado em abundância nos alimentos do reino vegetal.
        Com exceção da vitamina B12, que é o único nutriente que o vegetariano talvez precise complementar, mesmo com uma alimentação bem planejada, pois a vitamina B12 só está presente em quantidade significativa nos alimentos de origem animal. Devemos lembrar que leite, queijos e ovos são de origem animal e contêm essa vitamina.
       Os alimentos de origem vegetal (exceto feijões) contêm menos proteínas do que as fontes animais, mas, mesmo assim, em teor maior do que o organismo humano necessita.
       O baixo teor de gordura e a presença de fibras é um dos principais pontos positivos ao se comparar a proteína vegetal da animal.
      Estudos populacionais mostram que a dieta vegetariana estrita excede a necessidade de aminoácidos essenciais. Um amplo estudo de revisão sobre o assunto demonstrou que não há diferença na incorporação da proteína no corpo humano, seja ela do reino animal ou vegetal.
       A adesão da dieta vegetariana tem sido associada a diversos benefícios para a saúde da população humana, como baixas concentrações de lipídios séricos, baixos níveis de adiposidade corporal e baixa incidência de mortes por isquemia do miocárdio, diabetes mellitus e certos tipos de câncer. Em contrapartida uma dieta vegetariana desbalanceada ou restritiva, em situações de altas demandas metabólicas (durante o exercicio), pode provocar deficiências nutricionais.

    Embora a escassez de pesquisas relacionando adeptos da dieta vegetariana e atividade Física, podemos observar alguns resultados de pesquisas já feitas, como segue abaixo:

             Raben Et al (1992) em estudo encontrou valores mais baixos de testosterona em homens que consumiam dieta vegetariana rica em proteína, quando comparados aos que consumiam dieta não-vegetariana, também rica no nutriente.
          Estudo realizado por Campbell et al (1999) não foi encontrada diferenças significativas na força muscular dinâmica entre grupos de homens vegetarianos e não-vegetarianos. Ambos os grupos demonstraram aumento similar na força, após 12 semanas de treinamento contra resistência.
           Especulou-se se a dieta vegetariana poderia ocasionar impacto negativo sobre a função imunológica, mas, segundo Fogelholm (2003), a retirada da carne da dieta não parece ocasionar efeitos adversos sobre essa função. Quanto à influência da dieta na função imunológica de atletas de endurance, não foram encontradas diferenças significativas na quantidade e atividade das células do sistema imune entre os grupos.

              Entretanto, mais estudos precisam ser realizados para afirmações mais contudentes relacionadas ao tema.
              O que é unânime afirmar é que a Nutrição desempenha um papel importante na performance atlética, e muitas pessoas fisicamente ativas não têm uma dieta que as ajuda a desempenhar o seu máximo. Sem uma compreensão básica da nutrição, engolir um comprimido parece mais fácil do que planejar um cardápio. Na realidade, não há comprimido ou porção que possa melhorar sua performance como a ingestão apropriada de alimentos e fluidos.Independente do tipo de proteína, o importante é saber quando e quanto comer ao longo do dia e isso apenas um nutricionista poderá orientar de acordo com suas demandas e atividades diárias.

            Uma dieta vegetariana bem planejada e equilibrada, demonstra ser apropriada a todos estágios do desenvolvimento humano, bem como proporcionar suporte adequado ao desempenho esportivo.


ATLETAS VEGETARIANOS DE ALTA PERFORMANCE

Carl Lewis

Eleito o “Esportista do Século” pelo Comitê Olímpico Internacional, o velocista vegano, nascido nos Estados Unidos, colecionou 10 medalhas olímpicas em provas de velocidade, sendo nove delas de ouro. Em 1991, bateu o recorde de 9,86 segundos na prova dos 100 metros rasos.

Dave Scott

Foi seis vezes campeão do Ironman no Hawaii, a principal competição de triatlon no mundo, chegando em primeiro lugar em 1980, 1982, 1983, 1984, 1986 e 1987.

Éder Jofre

O maior pugilista brasileiro de todos os tempos, vegetariano desde os 20 anos de idade, desde 1956,  foi campeão mundial peso-galo em 1960 e do peso-pena em 1973 sem comer alimentos de espécie animal. Ele atribui a sua capacidade física, de resistência e força, à dieta vegetariana.

Murray Rose

Considerado um dos maiores nadadores de todos os tempos, este escocês vegetariano conseguiu, logo aos 17 anos, três medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956, em Melbourne, na Austrália. Nos 400m livre, 1500m livre e 4 x 200m livre. Em 1960, nas Olimpíadas de Roma, também ficou com o ouro, nos 400m livre.

Daniel Meyer

Triatleta e ultramaratonista, atua na promoção do veganismo através de suas conquistas no esporte, demonstrando que uma dieta estritamente vegetariana é totalmente compatível com alto desempenho esportivo

Fiona Oakes

Atleta vegana ganhadora de várias maratonas e responsável por um santuário no qual vivem centenas de animais.

Robert Cheeke

Fisiculturista e ativista vegano, promove palestras e promoções de seu livroVegan Bodybuilding & Fitness– The Complete Guide to Building Your Body on a Plant Based Diet (2010)

Frank Medrano

É super atleta conhecido mundialmente por sua força , flexibilidade e exercícios surreais que executa

Hélio Gracie

Foi responsável pela difusão do Jiu-Jitsu no Brasil e idealizador do estilo de arte marcial brasileira conhecido mundialmente como Brazilian Jiu-Jitsu.Descendente distante de escoceses, quando era apenas uma criança sua família mudou-se para o Rio de Janeiro. Devido à sua frágil saúde, Hélio, o mais franzino dos Gracie, não podia treinar o Judô tradicional ensinado pelos seus irmãos, especialmente Carlos Gracie.Faleceu aos 95 anos de idade e desde os 67 anos era vegetariano, pois segundo ele, descobriu que carne não fazia bem


REFERENCIAS:


Prof. Márcio Luiz de Almeida BUENO / CREF 020654-G/MG
 
American College of Sports Medicine. Nutrition and athletic performance. Med Sci Sports Exerc. 2000

Campbell WW, Barton ML, Cyr-Campbell D, Davey SL, Beard JL, Parise G, et al. Effects of an omnivorous diet compared with a lactoovovegetarian diet on resistance-training-induced changes in body composition and skeletal muscle in older men. Am J Clin Nutr. 1999.

Fogelholm, M. Dairy products, meat and sports performance. Sports Med. 2003

Position of the American Dietetic Association: Vegetarian diets. J Am Diet Assoc. 2009.

Raben A, Kiens B, Richter EA, Rasmussen LB, Svenstrup B, Micic S, et al. Serum sex hormones and endurance performance after a lacto-ovo vegetarian and a mixed diet. Med Sci Sports Exerc. 1992

Soares, EA, Burini, RC. Dietas vegetarianas: tipos, origem e implicações nutricionais. Cad Nutr. 1990


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