sábado, 9 de abril de 2016

Hipertensão e atividade física



A pressão arterial é caracterizada pela força com o qual o coração bombeia o sangue através dos vasos. É determinada pelo volume de sangue que sai do coração e a resistência que ele encontra para circular no corpo. Ela pode ser modificada pela variação do volume de sangue ou viscosidade (espessura) do sangue, da frequência cardíaca (batimentos cardíacos por minuto) e da elasticidade dos vasos. A hipertensão (comumente chamada de pressão alta) é a pressão arterial acima de 140x90 mmHg (milímetros de mercúrio) em adultos com mais de 18 anos, medida em repouso de quinze minutos e confirmada em três vezes consecutivas.
Segundo a sociedade Brasileira de Hipertensão estima-se que a doença atinja em torno de,25 % da população brasileira adulta, chegando a mais de 50% após os 60 anos e está presente em 5% das crianças e adolescentes no Brasil. É responsável por 40% dos infartos, 80% dos derrames e 25% dos casos de insuficiência renal terminal.
Os fatores de risco da hipertensão são subdivididos em fatores endógenos e fatores exógenos.

FATORES ENDÓGENOS

HEREDITARIEDADE: Algumas pessoas herdam a predisposição à hipertensão arterial, que pode apresentar-se em vários membros da família;

IDADE: O Envelhecimento eleva o risco da hipertensão arterial em ambos os sexos;

RAÇA: Estatísticas apontam que a raça negra é mais propensa á hipertensão do que a raça branca;

PESO: A obesidade é um fator de risco à hipertensão arterial;

FATORES EXÓGENOS

BEBIDA ALCOOLICA: O uso abusivo de bebida alcoólica se associa a hipertensão arterial;

TABAGISMO: Não está diretamente ligado á pressão arterial, porém é um fator de risco em doenças cardiovasculares;

EXCESSO DE SAL: Como vimos no post anterior o Cloreto de Sódio pode facilitar e agravar a hipertensão;

ESTRESSE: Excesso de trabalho angustia, preocupações e ansiedade, podem ser responsáveis pelo aumento da pressão arterial;

SEDENTARISMO: O sedentarismo contribui para a formação de ateromas (placas de gordura) nas artérias, devido  “sobras” de gordura que não foi devidamente metabolizada, fazendo com que haja um aumento de gordura na corrente sanguínea. Essas placas ocasionam uma obstrução nas paredes das artérias, comprometendo a circulação sanguínea e elevando a pressão arterial.



ATIVIDADE FISICA E HIPERTENSÃO

          Já na década de 80 em estudos realizados por Paffenbarger, no qual foi acompanhado por 6 a 10 anos a incidência de hipertensão arterial em alunos de Harvard, relatou que indivíduos que não se engajavam em atividades esportivas vigorosas tinham um risco 35% maior de desenvolver hipertensão do que aqueles que praticavam esse tipo de atividade. Fagard , em uma revisão de 2005, concluiu que níveis elevados de atividade física  reduzem em aproximadamente 30% a incidência de Hipertensão. Hayashi et al. observaram redução de 12% do risco de hipertensão quando o tempo de caminhada ultrapassava os 10 minutos.
          Porém de acordo com estudo de Alves (2007),  as características do treinamento podem afetar seu efeito hipotensor (causa a queda da pressão arterial). Em seu estudo conclui-se que maiores reduções da pressão arterial são conseguidas com: a) modalidades que envolvam maiores grupos musculares, como caminhada/corrida ou ciclismo; b) intensidades mais baixas (40% a 60% do VO2 pico) e c) volumes de treinamento maiores, com maior frequência semanal e/ou com maior duração das sessões.


EXERCÍCIOS AERÓBICOS



Os exercícios aeróbicos tem demonstrado ser o tipo de treinamento mais indicado para os hipertensos.
Estudos têm demonstrado reduções significantes das Pressão Arterial (PA) sistólica/diastólica com o treinamento aeróbico. Além de reduzir a PA clínica e de 24 horas, o treinamento aeróbico diminui a PA em situações estressantes (ROGERS ET AL. 1996 : SANTANELLA ET AL .2006). 
A indicação é que exercícios aeróbicos de baixa e moderada intensidade, com duração de 30 á 60 minutos pelo menos 3 vezes na semana são os principais aliados para resultar efeitos hipotensos desejados. Porém, orientações especificas devem ser seguidas ao se elaborar o treinamento: duração, frequência e intensidade. A recomendação da American Heart Association é que o exercício físico aeróbico seja realizado com duração mínima de 30 minutos, pelo menos 3 vezes na semana, com intensidade leve a moderada de acordo com a capacidade física do indivíduo. É importante que o programa a ser realizado se baseie em resultados obtidos em testes ergométricos, como monitoramento da curva de pressão arterial, afim de verificar respostas anormais ao exercício.
                 
EXERCÍCIOS RESISTIDOS



         O exercício resistido foi durante muitos anos contraindicado para indivíduos com problemas cardiovasculares e consequentemente os estudos sobre seu efeito relacionado á pressão arterial foi negligenciado por muito tempo. Porém, estudos foram feitos e indícios apontaram que o exercício resistido se bem orientado resultava na redução da pressão arterial. Entretanto ao praticar esse tipo de exercício picos de PA elevados podem ser alcançados facilmente se as características do exercício não forem controladas adequadamente para o aluno hipertenso. O treino resistido é indicado como um complemento do treinamento aeróbico, até mesmo devido aos seus benefícios sobre o sistema osteomuscular.

Dentre as peculiaridades de um treinamento resistido para hipertensos, alguns fatores devem ser cuidadosamente levados em consideração, como demonstrado abaixo:

1) A intensidade é um fator importante, pois para o mesmo número de repetições, quanto maior for a intensidade, maior será o aumento da PA;

2) Contudo, mesmo com intensidade baixa, os exercícios não devem ser realizados até a fadiga concêntrica (quando não se consegue mais fazer o movimento);

3) A pressão arterial deve ser mensurada sempre que possível ao longo do treinamento, principalmente antes de iniciar os treinos;

4) O período de pausa entre as séries e os exercícios deve ser longo para permitir que a PA retorne aos valores basais.


A prática regular de exercícios físicos reduz a PA, além de trazer outros benefícios para o paciente, tais como:


1)Redução do peso corporal, em especial pela redução da gordura corporal central demonstrada por uma relação cintura/quadril anormal (> 0,80 para o sexo feminino e > 0,90 para o sexo masculino);

2)Redução da resistência insulínica;

3)Correção das dislipidemias;

4)Diminuição do LDL (colesterol conhecido de tipo "ruim"), responsável pelo entupimento das artérias;

5) Estímulo ao abandono ao tabagismo;

6) Aumento da capacidade funcional;

7)Redução do estresse e melhora da sensação de bem-estar;


Hábitos saudáveis como a prática regular de atividade física e uma alimentação equilibrada indiscutivelmente são os principais aliados ao combate à hipertensão. Os exercícios aeróbicos de baixa intensidade e longa duração são os exercícios mais indicados para os hipertensos, porém, os exercícios resistidos podem ser utilizados para complementar o treinamento aeróbico. Mas não podemos esquecer que o treinamento deve ser cuidadosamente elaborado para esse tipo de público, com particularidades e características diferentes de um treino convencional.
É importante o hipertenso antes de iniciar qualquer treinamento a realização de uma avaliação clinica e procurar um profissional de educação física competente para a planificação do seu treinamento. Seu corpo e sua saúde são seus maiores bens, não entregue nas mãos de qualquer um. Bons treinos!!

REFERÊNCIAS


Cooper, K.H. O programa aeróbico para o bem estar total. Trad. Luís Horácio de Matta. Rio de Janeiro: Nórdica, 1982.

Fagard RH. Physical activity, physical fitness and the incidence of hypertension. J Hypertens, 2005.

 Forjaz CLM, Rezk CC, Cardoso Jr. CG, Tinucci T. Sistema cardiovascular e exercícios resistidos. In: Negrão CE, Barretto ACP, eds. cap. 17. Cardiologia do exercício: do atleta ao cardiopata. 3. ed. Barueri: Manole; 2010.

 Guidelines for Cardiac Rehabilitation Programs. Ed. American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation. Human Kinetics, Champaingn, 1995.

 Hayashi T, Tsumura K, Suematsu C, Okada K, Fujii S, Endo G. Walking to workand the risk for hypertension in men: the Osaka Health Survey. Ann Intern Med, 1999.

 Paffenbarger Jr RS. Contributions of epidemiology to exercise science and cardiovascular health. Med Sci Sports Exerc. 1988.

Rogers MW, Probst MM, Gruber JJ, Berger R, Boone Jr JB. Differential effects
of exercise training intensity on blood pressure and cardiovascular responses to stress in borderline hypertensive humans. J Hypertens, 1996.

Santaella DF, Araujo EA, Ortega KC, et al. After effects of exercise and relaxation on blood pressure. Clin J Sport Med. 2006;


Teixeira, L. Atividade física adaptada e saúde: da teoria à pratica. São Paulo, 2008.

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